domingo, 18 de julho de 2021

O que é um crossdresser?


O crossdresser (CD) é uma pessoa, que por motivos indeterminados, gosta e se sente bem ao usar peças de roupas e acessórios do sexo oposto.

O termo surgiu durante os anos 60 e chegou ao Brasil por volta de 1997 com um significado bem simples: vestir-se ao contrário.

É um fenômeno bastante comum, embora a maioria dos adeptos prefira realizar o crossdressing às escondidas, devido o preconceito e o mau julgamento da sociedade.

A maioria dos CDs mantém sua identidade de gênero. Em muitos casos são homens com uma vida masculina estruturada, trabalho, esposa ou namorada, filhos, gostos e comportamentos masculinos, mas que em alguns momentos sentem vontade de expressar a sexualidade feminina usando roupas e acessórios de mulher.


A experiência crossdresser.

Na experiência crossdresser não existe a necessidade de realizar alterações corporais, como terapia hormonal ou implante de silicone. São simplesmente pessoas que sentem vontade e prazer em usar roupas do sexo oposto.

Na maioria dos casos, a pessoa começa a manifestar a vontade de experimentar roupas do sexo oposto, desejo este muitas vezes reprimido pelo julgamento da sociedade e a comparação com outros estilos, como transformistas e Drag Queens.

As formas de aderir ao crossdressing podem ser variadas. Algumas pessoas usam uma peça de roupa do sexo oposto por baixo, como homens que usam calcinhas; outras usam as peças somente quando estão sozinhas; outras em apenas um turno – durante a noite, por exemplo – ou dia específico; e há ainda as que se assumem por completo e usam roupas do sexo oposto durante todo o tempo.


O crossdresser é homossexual?

Muitas vezes, o crossdresser é associado erroneamente à homossexualidade.

Este estilo não tem nenhuma associação à orientação sexual do praticante. O CD pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual.

No entanto, é muito comum que o a pessoa que está descobrindo o universo do crossdresser tenha dúvidas sobre seus sentimentos e preferências, principalmente por desconhecimento e falta de informação.

É necessário saber diferenciar identidade de gênero e orientação sexual. Identidade de gênero é como o indivíduo se coloca na sociedade (masculino e feminino), enquanto orientação sexual refere-se ao desejo sexual por um determinado gênero.

Portanto, se o crossdresser sente atração por pessoas do sexo oposto, ele é heterossexual; se sente desejo por pessoas do mesmo sexo, homossexual e se for por ambos, bissexual.

Na realidade, grande parte dos CDs são heterossexuais, possuem parceiras e em alguns casos, elas sabem e apoiam a prática.


Diferenças de crossdresser para outros estilos

Drag Queen
As drags também usam roupas femininas, no entanto, constroem uma caricatura exagerada da mulher, como um personagem. Os CDs são mais discretos e não gostam de chamar a atenção.

Transformistas
Os transformistas também se vestem de mulher, mas geralmente se produzem para a realização de shows e eventos. O crossdresser usa roupas femininas por simples vontade e prazer.

Travestis
Os travestis são homens com todas as características secundárias de uma mulher, conseguidas através de cirurgias plásticas e hormônios, menos a genitália, que continua masculina. É um homem que anda, veste-se e age socialmente como uma mulher.

Infelizmente a maioria dos adeptos do crossdressing ainda vive escondida e não assume a prática devido o preconceito que enfrenta na sociedade.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Você sabe o que é crossdresser?


Homens vestidos de mulher estão presentes há bastante tempo na literatura, filmes, conversas, piadas e momentos da vida social, como as festas à fantasia ou o carnaval. De modo geral, essas pessoas são representadas nesses espaços através de uma certa veia cômica, através do prisma do risível. Ao longo de minha pesquisa de doutorado com homens que se vestem de mulher ou crossdressers, pude notar que esta prática, para eles, nada tem a ver com esta idéia de cômico. Pelo contrário, as pessoas com quem convivi ao longo de minha pesquisa levam bastante a sério a idéia de se montar. Uma crossdresser pode ser definida como alguém que eventualmente usa ou se produz com roupas e acessórios tidos como do "sexo oposto" ao seu "sexo biológico".

Há diversas formas de praticar crossdressing, com graus variados tanto em termos de tornar a prática pública, quanto em graus de intervenção e mudança corporal. Algumas crossdressers se montam apenas para ficar em casa, algumas apenas usam um ou outro acessório ou roupa (um salto, uma calcinha, uma saia), outras se montam por completo (com roupas, acessórios, saltos, perucas e maquiagem). Algumas contam para famílias, cônjuges e amigos, outras mantêm este lado de sua vida em absoluto segredo. Algumas depilam o corpo todo, algumas deixam o cabelo crescer, algumas fazem unhas e sobrancelhas, outras apenas mascaram os traços da masculinidade quando se montam, por meio de truques que vão aprendendo ao longo de suas vidas. A montagem das crossdressers é eventual e isso implica em entender que elas têm uma espécie de vida dupla: há a vida montada e a vida desmontada. Essas duas vidas, na maior parte dos casos, estão absolutamente dissociadas uma da outra.


Admiração pelo feminino

Para as crossdressers, o prazer de se vestir de mulher reside no ato de parecer feminina, o que explica, por exemplo, a preferência por serem chamadas por pronomes femininos quando montadas. Todas as crossdressers escolhem um nome feminino e um sobrenome, o qual usam nos momentos em que estão en femme. De modo geral, as crossdressers se inspiram e buscam realizar em suas montagens coisas que observam nas mulheres e que admiram ou em coisas que elas vêem nas mulheres e acham bonito ou interessante. Há um grande investimento emocional e também financeiro feito por essas pessoas para se montarem. Há várias crossdressers que, inclusive, investem mais em comprar roupas para o lado feminino que para o lado masculino. Algumas têm armários inteiros de roupas femininas caso morem sozinhas ou as pessoas com quem moram saibam do crossdressing. Outras guardam as coisas de se montar em uma mala ou mochila, que escondem em algum lugar da casa, do escritório ou do carro.

A produção da feminilidade - ou da "mulher" que se quer ser - aparece nos discursos como algo que tem impacto em suas vidas afetivas, tanto no que concerne a família e amigos, quanto no que concerne a seus relacionamentos amorosos. Evidentemente, os impactos são diferenciados para cada tipo de relação. Nas relações com família, de modo geral, há certa política "não pergunte, não fale" ou, mesmo, um segredo absoluto sobre a prática. Uma das pessoas com que conversei ao longo de minha pesquisa relata que, conforme as maquiagens que lhe eram favoritas e pertenciam à mãe e à irmã eram percebidas por estas como "mais usadas do que deveriam", as mesmas deixavam de ser compradas.


Internet

Muitas crossdressers relatam que só entenderam o que sentiam a partir de pesquisas realizadas na internet e que foi nestas pesquisas que encontraram um nome para aquilo que faziam ao longo de suas vidas. A internet é apontada como o meio que facilitou também o acesso e contato com outras pessoas que também compartilhavam desta prática. Ela aparece como o instrumento que torna factível que se constitua um grupo, independente de limites físicos ou relações que perpassem a necessidade de se encontrar pessoalmente. Há, inclusive, grupos de crossdressers dentro e fora do Brasil que se organizam basicamente pela internet. Esses grupos até podem se encontrar presencialmente em algum momento, mas é a internet que torna o encontro entre muitas dessas pessoas possível.


Desejo e preconceito

Um dos estereótipos mais comuns que cerca esta prática é o fato de que, em nossa sociedade, associa-se usar roupas do outro sexo à idéia de homossexualidade. O crossdressing não deve ser visto como algo relacionado a homo, hetero ou bissexualidade. É importante que se entenda que essas formas de expressão da sexualidade não influenciam e nem têm relação com o desejo de vestir-se com roupas socialmente atribuídas ao sexo oposto. São desejos de ordens diferentes e que não tem correspondência direta entre si.

As histórias sobre como e quando começaram a se montar são variadas. Algumas crossdressers contam que vestir roupas de mulher é algo que já lhes despertava interesse desde a infância, ao mesmo tempo em que, desde muito cedo, também sabiam que aquilo seria visto como algo "errado" e, nesse contexto, deveria permanecer oculto. Outras relatam que a adolescência foi o momento em que começaram a sentir vontade de se montar, e aproveitavam os momentos em que estavam sós em casa para brincar com os armários de suas mães, irmãs ou tias. Há também homens que só na vida adulta passam a se interessar pelo crossdressing, como o caso de uma das interlocutoras de minha pesquisa que descobriu que queria se montar bem depois dos filhos tornarem-se adultos e
de ser avô.

O desejo de "montar-se" e a efetivação desse desejo constituem-se em uma experiência única e importante para suas auto-estimas, suas auto-imagens e para suas percepções enquanto "pessoas completas". Contudo, na hora de pesar para quem contar ou se vale a pena tornar pública a prática - uma vez que algumas saem para a rua quando estão "de meninas" -, elas lidam sempre com o fato de que há preconceitos relacionados ao que fazem. Assim, para além do desejo e dos prazeres que estão relacionados com o crossdressing, acabam negociando com dificuldades, entre elas tratá-lo como algo que deve/precisa permanecer apenas no privado e, preferencialmente, em segredo.

Algumas angústias relatadas pelas crossdressers em relação a se montar dizem respeito ao que fazer quando o desejo de vestir-se do "outro sexo" aparece, a como operacionalizar as coisas para tornar este desejo algo que possa ser efetivado, assim como decidir para quem se pode contar e como contar, os riscos da falta de aceitação e, também, às crises morais relacionadas ao fato de praticarem crossdressing. A exposição ou não do fato de se montarem é uma questão delicada, já que existe a possibilidade real de perdas de amizades, empregos e laços familiares quando se decide "sair do armário".

Femininas às escondidas, crossdressers relatam medos e prazeres de vida dupla


Homens que se vestem como mulheres na intimidade chegam a relatar diferenças de suas personalidades femininas em relação às masculinas do dia a dia, mas preferem viver no anonimato por temerem a incompreensão e o preconceito da sociedade

Um corpo dividido entre duas personalidades diferentes, uma masculina e outra feminina, é a forma que Cléo usa para explicar a sua coexistência com sua personalidade masculina. A diferenciação, para ela, começa ao atender a ligação no celular. Sai a voz notadamente de um homem que atendeu a chamada e volta outra bem mais identificável como de uma mulher. Cléo, cujo nome foi dado por conta de uma fantasia de Cleópatra, existe há pouco mais de um ano e surgiu quando um parceiro sexual sugeriu que vestisse uma calcinha e meia-calça durante o sexo. Segundo ela, essa personalidade foi se desenvolvendo assim como os figurinos e as montagens (maneira como elas tratam o ato de se vestir de mulher). “Em dado momento, me surpreendi com meus gostos femininos, não só na hora de escolher as roupas, mas nas minhas preferências também. Como Cléo, gosto de homens gordinhos, por exemplo, que é algo que não me atrai normalmente. Outra novidade foi quando percebi que, além do sexo, eu sentia a necessidade de receber carinho também quando estou como mulher”, conta.

Apesar de sua preferência sexual por homens ser comum às duas personalidades, Cléo mantém segredo sobre a existência desse lado feminino. Ela tem um blog na internet e um perfil nas redes sociais dedicado a contar suas experiências e também a buscar parceiros. “Geralmente, tenho em torno de duas horas para me vestir como mulher, manter esse encontro, que tem finalidade sexual, e depois retirar todos os vestígios de feminilidade do meu corpo”, explica. Como homem, mantém uma relação estável com outro rapaz há quatro anos. “Meu namorado não sabe que tenho outros relacionamentos, tampouco que me visto como mulher para eles. Em casa, eu sou o homem, apenas ativo, e talvez tenha surgido daí essa minha necessidade de extravasar”, conta.

Cléo conta que não tem vontade de contar a esse namorado sobre sua vida dupla nem de terminar o relacionamento por conta disso. “Se algum dia terminarmos, vou querer alguém que conheça e aceite esses meus dois lados”, afirma. Apesar de gostar de sua existência feminina, garante que não tem intenção de abandonar a existência como homem. Ela convive com outras crossdressers em redes sociais, principalmente em grupos fechados onde trocam informações sobre roupas femininas e vivências sexuais. Baseada nessa experiência, ela explica que é apenas um exemplo de uma grande diversidade existente no grupo. “Existem as que são homo, hétero e bissexuais. Algumas são casadas com mulheres e as parceiras sabem, outras vivem uma vida dupla. Eu gosto de ficar bem feminina como Cléo, outras têm prazer em ter um corpo masculino com roupas femininas, inclusive com barba e pelos no corpo”, exemplifica. Segundo outra crossdresser entrevistada, pessoas heterossexuais e as casadas geralmente tendem a ser mais reservadas.

A divisão entre as personalidades masculina e feminina é ainda maior para Nicole. “Eu me considero bissexual. Quando estou como homem, tenho interesse por mulheres, já tive namoradas, mas elas nunca souberam desse meu outro lado. Montada, eu prefiro homens, mas nunca tive nada mais duradouro. Cheguei a me relacionar um tempo com um casal, tinha um lado de dominação e eles chegaram a me levar para algumas festas em que eu ia vestida como Nicole”, explica. Nicole é crossdresser há mais de 10 anos, mas, com exceção dessas situações, ainda não se vestiu como mulher em público. “Tirando essas ocasiões, nunca tive coragem de sair na rua com roupas femininas. Tenho medo de ser reconhecida e de criar constrangimentos à minha carreira. O trabalho é muito importante na minha vida. A sociedade tem dificuldade de assimilar as transexuais, não estou disposta a isso. Acho que o preconceito segura bastante”, relata.


Nicole: Quando estou como homem, tenho interesse por mulheres. Montada, eu prefiro homens

Ela conta, no entanto que não sabe se viveria tempo integral como mulher mesmo se não sentisse esse constrangimento. “Passo horas no processo de me feminizar. Digo que me visto assim sempre que tenho oportunidade. Não sou das que se satisfazem pondo uma calcinha por baixo da roupa para ir trabalhar. Não me monto só para me relacionar com homens, gosto de me ver como uma mulher, geralmente, me visto para homens que querem me ver assim e deixo rolar”, diz. Nicole recorda que começou a usar escondida as roupas da mãe e da irmã quando morava na casa dos meus pais. “Lembro que cheguei a comprar algumas roupas femininas em sites da internet. Quando vim para São Paulo, em 2009, fiquei mais livre, morava numa república, mas já tinha as minhas roupas femininas, que mantinha trancadas. Chegava a alugar um quarto em hotéis para passar o fim de semana todo vestida de Nicole”, diz. O auge, no entanto, foi quando passou a dividir o apartamento no qual mora atualmente com outra crossdresser. “Ela era casada e a mulher não sabia desse segredo. Apenas guardava as roupas dela aqui, enquanto eu morava aqui sozinha. Eu tinha um perfil no Orkut, onde colocava as minhas fotos femininas. Os elogios que recebia sempre foram importantes para investir em uma montagem cada vez melhor, aprender a usar maquiagem, comprar saltos, perucas etc.”, conta.

Estudante universitária, Gabi conta que é assumidamente um rapaz homossexual, mas mantém segredo sobre o fato de ser crossdresser. Tem 19 anos e começou a se vestir como mulher faz um ano. Como mora com a família, as roupas ficam escondidas em seu quarto e ela não costuma sair em público como Gabi. Com o corpo depilado e longos cabelos encaracolados, ela conta que costuma marcar encontros pela internet, com homens que frequentam sua página em perfis sociais.

De vez em quando, se exibe também para eles. “Ser crossdresser desperta a atenção de homens que normalmente não se sentiriam atraídos por um garoto gay. E sinto que sou tratada também com mais carinho quando estou assim”, diz. Gabi conta que costuma se vestir basicamente com finalidade sexual. A primeira vez, segundo narra, foi como uma brincadeira. “Ouvia dizer que eu parecia uma garota e resolvi me vestir de mulher de curiosidade, para saber como ficava”, diz ela, que admite que não assume publicamente que é crossdresser por medo do preconceito das pessoas.

Experiência pré-transexual

Apesar de ter uma vivência de se vestir de mulher apenas em lugares reservados, Carla diz que não se considera uma crossdresser. “Eu me considero uma transexual que ainda não pode viver do jeito que gostaria. Tenho um pouco de vergonha e medo de que as pessoas não me entendam. Principalmente a minha família, acho que a gente sempre depende desse apoio”, explica. Atualmente, se veste diariamente como Carla. “Quando chego do trabalho, fico à vontade. Faço maquiagem, coloco uma peruca e escolho as roupas que tenho vontade de usar, uma minissaia e uma blusa. Espero viver algum dia isso em toda sua plenitude, mas não sei se estou preparada. As pessoas mais próximas sabem do meu desejo sexual por homens, mas não comento sobre a questão de gênero. Acho que o meu maior receio é ser marginalizada, não sei como serei vista no meu ambiente de trabalho. Não quero jogar fora meus estudos, minha carreira”, afirma.

Ela conta que começou a se vestir como Carla há cerca de dez anos, incentivada por um parceiro. “Ele me deu um fio dental. Lembro que fiquei com vontade de vestir na hora, mas fiquei sem graça de admitir. Existe um processo de aceitação. Foi importante ele ter tomado a iniciativa de propor”, recorda, destacando que hoje se considera alguém que espera iniciar esse processo de feminização. “Mas não é algo simples. Cheguei a ir algumas vezes de biquíni para a praia. Escolhi uma mais afastada, com poucas pessoas, e fui sozinha. Fui com uma bermuda e, quando vi que estava em segurança, tirei e fiquei tomando sol.”

Monique também vive uma fase intermediária entre ser crossdresser e se assumir como transexual e viver integralmente como mulher. Aos 27 anos, ela faz uso de hormônios para feminilizar o corpo, o que já destaca os seus seios quando está em roupas femininas, mas ainda mantém o seu trabalho como homem. No cotidiano, usa técnicas para ressaltar a feminilidade quando está como Monique e para disfarçá-la quando está “de sapo” (expressão usada pelas crossdressers para identificar o momento em que usam roupas masculinas). Para ela, a vida como crossdresser acaba sendo um estágio para muitas pessoas perceberem se são transexuais ou não.


Monique passou as férias em trajes femininos, pela primeira vez, na cidade onde vivem os pais

Como Monique, começou a frequentar festas LGBTs e cada vez mais vive como mulher no dia a dia. “Nas férias, fui para a cidade dos meus pais. Foi a primeira vez que fiquei montada lá. Eles já sabiam que eu me vestia de mulher, mas acham que é melhor que eu não assuma isso integralmente. Acho que vão aceitar com o tempo, no começo foi difícil inclusive para eles entenderem o meu gosto por rapazes”, conta.

Sallie explica que, para ela, se vestir de mulher começou quase como uma brincadeira. “Uns amigos diziam que eu iria ficar legal e resolvi experimentar. Acho que é mais fácil para quem é homossexual experimentar essas coisas, porque já tem uma atração pela feminilidade”, comenta.

Ela conta que, a partir daí, houve grandes mudanças em sua vida. “Depois que comecei, ficou difícil parar. Hoje, compro muito mais roupas femininas do que masculinas. É como estar casado comigo mesmo”, brinca.

Sallie conta que não vê se vestir de mulher como uma mera fantasia. “Para mim, revelou uma essência que sempre tive”, acredita. Ela acredita que está em meio a um processo transexual, no qual não alcançou ainda o ponto de se assumir completamente, no entanto, já frequenta lugares fechados como mulher e é assumida perante amigos e familiares.


Sallie: “Depois que comecei, ficou difícil parar. Hoje, compro muito mais roupas femininas do que masculinas”

Feminização controlada

Bruna também faz uso de hormônios femininos, mas garante que não pensa em levar o processo de feminização mais adiante. “Uso para ser uma crossdresser mais ‘top’, como os homens costumam falar”, diz ela, que interrompe o uso dos hormônios femininos por dois meses quando percebe que as mudanças em seu corpo estão muito acentuadas. Bruna afirma ter começado o uso desses produtos tarde, aos 23 anos, mas destaca os resultados rápidos. “O contorno do rosto e da cintura mudam, a pele fica mais fina, por isso, vou administrando com cuidado para não despertar muita atenção, mas os seios estão fazendo sucesso”, comenta. Ela diz que as interrupções são importantes também para que ela não perca a ereção. “Gozar é muito bom”, diz.


Bruna interrompe o tratamento com hormônios femininos quando nota que as mudanças em seu corpo estão muito acentuadas

Hoje, aos 25 anos, Bruna conta que começou a se vestir constantemente de mulher aos 20 anos, por causa de um namorado. “Era muito legal porque ele investia em mim. Comprava lingeries lindas para eu esperá-lo chegar do trabalho”, recorda. Ela garante que tem amigos que já a viram vestida de mulher e garantem que seriam incapazes de reconhecê-la. Ela trata como indescritível o prazer que sente ao se vestir como mulher e diz que lhe agrada também receber elogios dos homens. Nos relacionamentos, especialmente como crossdresser, costuma sair principalmente com homens que são exclusivamente ativos, muitos deles casados.

Atualmente, parentes e amigos mais próximos sabem que ela é crossdresser e Bruna também não tem constrangimento de publicar fotos de rosto na internet. Ela fica de salto alto, fio dental e outras roupas femininas quando está sozinha, inclusive peças íntimas para dormir e, apesar de se vestir como mulher basicamente em ambientes privados, já fez algumas experiências públicas. “Uma vez fui para academia com um short de mais ou menos um palmo, uma regatinha e uma calcinha minúscula. Um amigo meu percebeu, mas não fiquei com vergonha, ele até gostou. Também já viajei para outros estados vestindo calcinha por baixo da calça jeans. É algo que me excita”, revela.

Bruna afirma que as crossdressers costumam ser alvo de preconceito de travestis e transexuais. “Somos muitas vezes motivo de piadas por parte delas. Elas são muito mais vítimas de violência do que nós, podiam ser um pouco mais tolerantes conosco”, diz.